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23 de julho de 2007

persistência
"Que o bem que fizeste seja vossa recompensa neste mundo e não vos importeis com o que dizem os beneficiados. A ingratidão é uma prova para tua persistência em fazer o bem."

(resposta à pergunta nº 937, dos Livros dos Espíritos, Allan Kardec)

20 de julho de 2007

escrevo...

Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...

(Clarice Lispector)

19 de julho de 2007

lições do mestre

Perseu Abramo, lecionou por 15 anos no curso de jornalismo e veio a falecer no ano de 1996. Em um discurso na PUC – SP em 1995, deixou um importante lembrete sobre o ofício:

“(...) Não se deixem deslumbrar pelas técnicas e pelas novas tecnologias. Elas de nada valem, se não forem utilizadas com profundo sentido ético e com a visão clara de que a imensa maioria da sociedade, em todos os países, ainda luta para libertar-se da exploração, da opressão, da desigualdade e da injustiça.”

Pegando esse gancho, o profº Hamilton Octavio, no mesmo livro, comentando a relevância dos estudos apresentados por Abramo, conclui:
“a atividade somente pode ser entendida e analisada como categoria política, como instrumento de propagação ideológica de grupos, setores e classes sociais”.

ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa: Um ensaio inédito de Perseu Abramo. 1ª ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. 64 p.

18 de julho de 2007

O avião que caiu centenas de vezes

No mundo real, de aço, de tijolo e de gente, o avião da TAM caiu uma vez só. Foi em São Paulo, bem perto do Aeroporto de Congonhas. Mas na televisão, pelas telas do Brasil inteiro, o mesmo avião se destroçou centenas de vezes. Reconstituições animadas, chamas em câmera lenta, tudo se fez para prolongar o horror. Por que é que tem que ser assim?
Existe a resposta cínica: É notícia, um desastre com tais proporções merece todo o destaque nos meios de comunicação. Sem cinismo, a resposta não seria tão fácil. Que é notícia, ninguém há de negar. Que os cidadãos devem ser informados sobre cada detalhe, também não se contesta. Mas o festival ininterrupto que perpetua o desastre na televisão não tem nada a ver com informação ou notícia. É show. Soa mórbido, mas é isso mesmo: como o desfile das escolas de samba ou as Olimpíadas, as catástrofes se convertem em show de TV, com a diferença de que o Carnaval e as Olimpíadas são shows um pouco menos apelativos.
A TV tem na informação jornalística um produto secundário. Seu negócio fundamental é o entretenimento. Daí a vocação para o espetáculo, o apelo à emoção. Mesmo os documentários não podem fugir à obrigação de emocionar. É o critério da emoção que faz com que as imagens que já não informam nada de novo sejam repetidas sem parar. O gol de placa dos replays ao longo da semana. A trombada que matou Ayrton Senna também. O objetivo é fazer durar a emoção. Por isso, na televisão, as tragédias não acontecem simplesmente: elas ficam acontecendo, num gerúndio interminável que não é o tempo dos fatos, mas o tempo das sensações. Diante das chamadas, dos corpos no chão, o telespectador se deixa aprisionar, ou melhor, se deixa entreter, atraído por tudo aquilo.
Entrevista num dos programas sobre o acidente, uma testemunha contou que estava no quarto quando vislumbrou as chamas pela janela. Num impulso repentino, como numa recusa, fechou a janela. Mas, logo em seguida, abriu novamente. Precisava confirmar o que tinha acabado de ver. Olhou e ficou aterrorizada. Talvez o telespectador alegue algo parecido: não desprega o olho do vídeo porque precisa ver para crer. Mas a televisão, ao contrário das janelas de verdade, não aproxima de nada – ela protege de tudo. Quem viu pessoalmente as cenas do desastre se feriu na alma. Muita gente não conseguia dormir depois. Quem vê pela televisão as mesmas imagens se sente imune. Bebe um uísque, relaxa na poltrona. Sente um prazer estranho. Pede bis e é atendido.

Incrivelmente, o texto postado acima comemorará 11 anos. É de autoria do jornalista Eugênio Bucci e foi publicado na revista Veja, no dia 13 de novembro de 1996. A tragédia, de proporções lastimáveis, ocorreu em 31 de outubro de 1996, onde 99 pessoas morreram. Existe o velho adágio dizendo que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Dessa vez caiu e causou um estrago muito maior. Se há culpados? Se houve falha humana? Se a manutenção da pista foi subestimada? Tudo é possível. Mas nada pode justificar, o que nas palavras de Bucci, pode ser entendido como “vocação para o show” nas coberturas jornalísticas.
Deixo aqui minhas sinceras condolências aos familiares e amigos das vítimas. Também lamento essa modalidade, sutilmente sádica, de propagar o sofrimento alheio.

10 de julho de 2007

aquilo que somos

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos."


(E. Galeano)

quem muda o mundo...

Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.


(Mario Quintana)

sabedoria

"-Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui? - perguntou Alice.

-Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.

-Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.

-Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."


(Lewis Carroll - Alice no País das Maravilhas)

9 de julho de 2007

one year of love

E finalmente, resolvi me desfazer da “era do medo”. É hora de juntar os pedacinhos e recomeçar a caminhada. Isso tem muito pouco a ver com a finalidade desse espaço, mas é que esqueci de contar: eu era uma pessoa muito medrosa.
Hoje, e por motivos que dispensam comentários, sinto que é hora de mudar. Pretendia fazer uma postagem que finalmente definisse uma “pré-linha editorial” para o blog, a exemplo do MV Bar, que tanto freqüento.
Mas reconheci que a própria escolha do nome, “Pluralidade”, tem mesmo a função de representar minha própria diversidade, minhas percepções, muitas vezes confusas, e sobretudo, o exercício constante de contar histórias. Um treinamento para o futuro ofício.
Tinha em mente uma bela história para hoje, ou ao menos, uma que poderia ter sido muito bela. Mas deixe que o tempo se encarregue das feridas. Sobre isso, apenas um comentário:

“Just one year of love
Is better than a lifetime alone”

(
John Deacon – Queen)

E uma bela letra:

Nosso sonho
Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora
Sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música

Nossas juras de amor
Já desbotadas
Nossos beijos de outrora
Foram guardados
Nosso mais belo plano
Desperdiçado
Nossa graça e vontade
Derretem na chuva

Um costume de nós
Fica agarrado
As lembranças, os cheiros.
Dilacerados
Nossa bela história
Está no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música

Música - Vanessa da Mata