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31 de dezembro de 2008

Não dá para desistir...

Depois de um doloroso inverno, eis que a vida volta ao prumo. Esse seria o momento ideal para um grande balanço. Mas me pergunto: no que isso ajudaria? Não seria verdadeiramente autêntico sair listando todos os prós e os contras de um ano cheio, sofrido, alegre e provador. Todos passamos por isso, é simples assim. De toda forma, tomo emprestado o termo que Bauman usa para descrever a modernidade: 2008 foi um ano ‘fluído’. Rápido e sorrateiro, mas com muita, muuuita informação.

Pensei hoje cedo que, quase sem querer querendo, findei cumprindo as principais ‘promessas’ do último dia 31 de dezembro que tenho notícia. Tirei a habilitação (de primeira, sem golpes), passei por três estágios que me renderam bons contatos profissionais e encerrei (com chave de prata, devo reconhecer) a ‘saga quartenária’ da graduação. Tudo bem, não foi dessa vez que fiquei rica do dia para noite e nem tive o insight para salvar o mundo da fome e das mazelas. Mas chorei com os brasileiros que ‘chegaram lá’ e fizeram bonito nas Olimpíadas. Quase morri de catapora com os desdobramentos de operações Satiagraha, golpes certeiros nas eleições municipais, fome e crise estourando do outro lado do globo e aqui. E as catástrofes? Me renderam horas de orações.

Nesses tempos obscuros, Saramago bem disse que ‘Marx nunca teve tanta razão’. Naquela ocasião, ainda lançou luz ao fato cruel de que todos os bilhões que brotaram da terra para segurar a onda da crise estavam bem guardados. “Logo apareceu, de repente, para salvar o quê? Vidas? Não, os bancos”. É, meu caro ‘Prêmio Nobel’ e companheiro de toda vida, ainda temos muito trabalho pela frente.

Neste ano, pensei em desistir algumas vezes e juro que quase obtive êxito. Em certa hora, de uma noite qualquer, perdida em meio ao trivial devaneio que a só a insônia é capaz de promover, apareceu uma frase. Sim, dessas que lemos em pára-choques de caminhões ou em epígrafes de livros para auto-ajuda. Provavelmente não foi em nenhuma dessas ocasiões que ela veio a mim, devo confessar. É de Bob Marley – ou, pelo menos, atribuem a ele – e diz que “as pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram dia de folga... Como eu vou tirar?”. Como eu poderia?

O texto e a trilha sonora mais adequados para encerrar o ano, em minha opinião, são estes:

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Elisa Lucinda – Libação

(...) Peço ao ano-novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra da vaidade ‘minha’
desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar nos amesquinha

A vida não tem ensaios
mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre em nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!

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Paciência – Lenine Acústico





No mais, como simplesmente desisti de desistir, contem comigo em 2009!