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10 de agosto de 2009

Sobre o amor, a fossa e suas intempéries

Não é agradável presenciar um amigo experimentando a decadência. Por diversas vezes eu mesma fui cobaia dela. E esse ombro que aqui vos fala já foi palco de muitas lágrimas. Disso, ombro e eu, tiramos uma lição: não importam palavras, vá para o raio que o parta com os afagos e nem tente piadinhas fora de hora. Todo sofrimento tem uma missão em nossa vida. Nos coloca diante daquilo que mais nos enfraquece e nos obriga a ir além.

Ninguém que eu conheça sai imune de uma situação dessas. As decepções amorosas, no estágio alfa, levam fragmentos nossos, como uma hanseníase biográfica que vai desprendendo parte de nosso ser. Os pedaços de nossa história vão caindo e bate um desespero nessa hora. É ver o melhor de você, entregue com tanto carinho e confiança na mão do outro, ser posto na lata do lixo (também temos nossa parcela de culpa nisso), junto com outros dejetos orgânicos, o que o impossibilita de ser reciclado.

Perguntas que faço nessa hora: qual preço está disposto a pagar para ter por perto quem se ama/gosta/deseja? Esse preço é justo? Compensa condicionar a sua vida em função de alguém que não está tão disposto assim? O amigo em questão é um ‘cara gente boa’, como sempre digo ao apresentá-lo. Sabe aquele tipo firmeza que é capaz de pensar duas vezes antes de magoar alguém? É dele mesmo que estou falando. Ele é phoda!

Só tenho um conselho a dar. Aliás, dois: curta a sua fossa, pelo tempo suficiente. Como saberá que chegou a hora de parar? No momento em que começar a ficar estéril para a vida – vai por mim, é melhor brecar a coisa antes. Aproveite essa fase de introspecção para avaliar as suas escolhas e, sobretudo, o preço a ser pago por cada uma delas. Depois disso, garanto, você ficará mais seletivo e atento com relação aos ‘jardins em que pretende colher o pólen’. Sua alma estará mais decorada.

Sabemos, afinal, que o príncipe encantado ou a mulher dos sonhos não existem. São parte da projeção de algo que já se propaga dentro de nós. Na hora certa, você estará pronto e será exatamente aquele que um outro alguém estava esperando. E voilá! O segundo conselho vem em formato de uma lista de ‘músicas apropriadas para curtir a fossa com estilo’. Não obedecem, necessariamente, minha preferência e critério de intensidade sonora. Fazem parte do meu setlist, com letras que já expressaram exatamente o que senti e me dão, hoje, sensação de ‘pertencimento’ ao grupo dos que se curaram e cresceram com isso.

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Sounds of Sadness:

*Led Zeppelin - Since I've Been Loving You

*Gram - Você pode ir na Janela

*Pearl Jam – Black

*Paralamas do sucesso - Uns Dias

*Ramones - Poison Heart

*The Corrs – Radio

*Elza Soares - Espumas ao Vento

*Hoobastank - The Reason

*The Cranberries – Linger

*Capital Inicial - Tudo que Vai

*Roxxete - It's Must Have Been Love

*Zeca Baleiro - A Flor da Pele

*Led Zeppelin - Babe I'm Gonna Leave You

*Lenine – Paciência

*Metallica - Tuesday's Gone

*Cartola - O mundo é um moinho

*Amy Winehouse - Back to Black

*Seal - Kiss From a Rose

*Elton John - I'm Still Standing

*Queen - I'm Going Slightly Mad

*Cazuza - Codinome Beija-flor

*The Mission - Butterfly On A Wheel

* Creedence Clearwater - Heard It Through The Grapevine

*Guns N' Roses - November Rain

*Pitty - Na Sua Estante

*System Of a Down – Forest

* Duffy – Mercy

*Caetano Veloso - Você Não Me Ensinou a Te Esquecer

*Cordel do Fogo Encantado - O Amor é Filme

*The Beatles - Don't Let Me Down

*Joss Stone - Right To Be Wrong

* Megadeth- Almost Honest

*Pink Floyd - Wish You Were Here

*Los Hermanos – Anna Julia

*Radiohead - Creep, No Surprises, High and Dry, Paranoid Android e todas as outras

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Impossível ainda é não citar um comentário que o Leo fez, há muito tempo, no blog da Zwe (eu disse que um dia usaria isso):

"O amor se torna tranqüilo quando todo o resto da vida exige demais de você. Sendo assim, ele passa a ser seu porto seguro, pois espanta o medo ao invés de provocá-lo. Se ele não apara a sua queda, mas sim surge como uma das imagens que passam velozmente enquanto se cai, junto com as contas a pagar, os amigos perdidos e os motivos das cicatrizes, não merece ser chamado de amor".

Meu único desejo: fique vivo e bem. Já já passa. Juro.

Sem mais para o momento,

Ombro da Carol.


5 de agosto de 2009

Receita de sonhos...

Sou uma sonhadora incondicional e confessa. Meus dias são motivados por estas ‘realizações do porvir’. Gosto de dar asas à imaginação e me deixar flutuar em suas nuvens desconexas e imperfeitas. Sou ainda do tipo que dá corda para a criatividade alheia. Como uma porta-voz do ID, aquela entidade que habita o nosso ombro esquerdo e sopra dizeres encorajadores. Santo Freud que, aliás, muito tinha a dizer sobre os sonhos.

São vários os exemplos que me inspiram, frutos da persistência tipicamente humana de alcançar o oásis imaginado. Minhas aspirações são mais modestas, na maior parte do tempo. Tem dias que o princípio de prazer é tão simplório que me imagino perante o Espelho de Osejed (HP) pedindo a mesma coisa que Dumbledore supostamente pediria – um par de meias. Aliás, quem bem me conhece sabe que elas estão na lista das coisas que mais gosto de ganhar. Entre livros e artefatos de papelaria, CD’s e encordoamento de aço para violão.

Do que são feitos os sonhos? Fermento, farinha de trigo e essência de baunilha. Simples assim. Percebo agora que não tenho um grande projeto de vida. O que tenho são ‘planos intermediários‘ que dão sentido a minha existência, que vão forjando o meu ser em doses homeopáticas. Eles desempenham papel fundamental em cada fase que perpasso (como as gratificações que recebemos, a cada level do jogo que avançamos). E é disso que sou feita: de pequenas motivações diárias e paradas para o sorvete de morango com calda caramelo, no meio do expediente.

Quer uma boa receita? Recomendo a animação Kiwi, já bem popular, que sempre me emociona. Gosto desta edição, com a instigante ‘Wishlist’ do Pearl Jam na trilha. Já dizia Fernando Pessoa, ‘somos do tamanho dos nossos sonhos’. Portanto, cresça e aconteça. Arrume uma maneira inusitada, mas não deixe que a ausência de asas lhe faça perder o pique de saltar.

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4 de agosto de 2009

Detalhes tão pequenos...

... ou ‘Particularidades da Gripe Suína que Não nos Contaram’

É uma pandemia. Sim. Todos estão alarmados. Sim². Presenciamos uma nova configuração social em função do pânico. É para tanto? A tal da ‘hipocondria transitória’, causada por um ‘estresse psicossocial’ é o jargão médico para definir a neurose atômica que nos assola nesses tempos espirrados.

Mas, será mesmo que ninguém está lucrando com essa história? O documentário ‘Operação Pandemia’, do diretor argentino Julián Alterini, vai na contramão do que chamo ‘espetacularização de crise’ e nos fornece, digamos, outras inconveniências atreladas à pandemia.

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Texto narrado por Joaquín Arrieta, no documentário “Operação Pandemia”:

Atuemos ativamente, mas nunca aceitemos nos manter num estado de paranóia e sufoco. Cuidemos de nós e de nossas famílias, tenhamos em mente as medidas de prevenção, mas também, ter bem claro que esta fórmula em algum momento terá que mudar, porque estão jogando conosco, estão negociando com a sua saúde e a saúde de seus filhos.
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Só para constar, penso que as recomendações preventivas da ‘gripo porcina’ não servem só para o H1N1. Li coisas como ‘lavar as mãos, escovar os dentes e passar o fio dental’. Alô?! Será que minha mãe já previa um surto gripal desses, visto que incorporou tais práticas em minha rotina diária desde que eu me entendo por gente? O_o


3 de agosto de 2009

Sobre agosto, o gosto e o causo

Paixão nos deixa assim: monotemáticos e aéreos. Como diria Clarice Lispector, minha favorita, sofro de uma falta essencial de assunto. Mas escrever é preciso. Encantarmos-nos também.

E a vida segue, como se não precisasse de mim. Como se eu estivesse temporariamente desobrigada de descrevê-la, mencioná-la, deixá-los a par.

Tenho tanto causo para contar. Mas não vem ao caso. Escrevo só para constar que estou viva, que estou atenta. Escrevo sobre o frio e sobre o cobertor de orelha. Sobre os dias e sua inalterabilidade.

É mês de agosto. Já é. Posso prever os enfeites natalinos e aquela crise existencial que bate à porta quando pensamos: o ano está acabando. Sim, o tempo passa e as coisas melhoram. Evoluem.

Agosto, por Rubem Fonseca

Um mês de paixões, de gestos de desespero e de loucura.
Um mês de multidões vociferantes nas ruas.
Um mês sombrio de trágicas ilusões,
encerrado pela inalterabilidade do cotidiano – a vida continua.

High Hopes - Pink Floyd





Volto já!