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18 de junho de 2009

Eu passarinho...

Quatro anos de graduação e muita, muita transpiração. Não sou do tipo que já nasceu sabendo o que queria ser ‘quando crescesse’. Com o curso já em andamento e com o crescente entusiasmo pela área de humanas aflorando, certo dia acordo e percebo que cursar jornalismo foi uma das decisões mais acertadas que tomei em minha vida.

Não porque escrevo bem ou porque faço tipo irreverente. Simplesmente porque acreditava que as coisas podiam ser diferentes. Sim, o jornalismo praticado no Brasil (ou o que se subentende por tal) ainda me envergonha. E muito. Mas a academia - e aquela sementinha que alguns professores engajados plantam na gente - me colocaram em contato (e deram sentido) a minha paixão pela disseminação do conhecimento.

Eu seria uma jornalista melhor sem isso? Como diria Quintana, ‘a resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas’. Com certeza, sou uma pessoa melhor do que quando adentrei as portas da faculdade, apenas com uma vaga noção profissional e sem saber direito o que fazer com ela.

Se defendo a reserva de mercado? É óbvio. Ou será que, se ao invés de me comunicar bem, tivesse recebido uma luz do ‘Espírito Santo’, dizendo que o grande dom de minha vida é ser cirurgiã plástica. Vamos lá, gente! Vou trocar de profissão agora e preciso de cobaias – já que diploma é mero acessório. Quem se habilita?

O conhecimento é o único bem que não nos podem tomar. Por isso, não me arrependo por um segundo que seja de todo o suor e lágrima que a graduação me custou. O que me deixa triste e envergonhada no dia de hoje é saber que, no meu país, pouco importa se a categoria é legítima ou não. Pouco importa o genocídio intelectual promovido pelos ditos ‘formadores de opinião’. E, no mais, os sofismas usados para justificar a arbitrariedade estão na lista dos ‘assustadoramente absurdos’.

‘Diploma desnecessário: uma decisão danosa’, por Alberto Dines

“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”
Mario Quintana

Carolina Beu
Jornalista
MTB 56.307/SP
For nothing

5 comentários:

Sukaine's Heart disse...

Como ficaria o meu caso??? quase morta na praia...ser ou não ser (jornalista) eis a questão...

:(

Alexandre disse...

O diploma é, bem ou mal, o comprovante da sua aptidão para atuar em determinada área. Imagino que os bons empregadores não deixarão de escolher profissionais qualificados para trabalhar nas suas empresas. Contudo, é lamentável que haja um retrocesso na legislação. Ao meu ver, a reserva de mercado é uma coisa boa para a maioria das categorias profissionais, pois, sobretudo, garante alguma qualificação.

. disse...

Exato, Alê!
A questão é: tenho lido muita coisa eloquente, citando a Constituição e a Ditadura Militar. Ok, impossível desprezar esses aspectos.

Minha pergunta é: tendo em vista a Carta Magna de 1988, desde quando o indivíduo precisa ser jornalista para ter o direito a liberdade de expressão assegurado?

Pelo amor, não basta os sofismas cometidos pelo ilustre ministro, ainda tenho que ouvir mais essa?

Anônimo disse...

Assim que a notícia iniciou,timidamente,
com a velha história de "ter ou não ter diploma e registro para exercer a profissão" já
estava num processo de total desesprença.Já imaginava que o parecer seria desfavorável.O que
poderíamos esperar de um governo que ataca a imprensa(independente de sua qualidade ou não),
que a execra e faz de tudo para destruí-la? Apoio?Se para ser advogado precisa OAB,
se para ser médico CRM, se em qualquer profissão há o registro para que
ela seja melhor assistida e, não vire a festa do oba-oba,festival de picaretagens,e afins
por que com nós jornalistas pode ser diferente?
Pior,porque os argumentos(se é que existem) são tão vagos,falhos,escabrosos?Sim,há pessoas
de talento,que não são formados na área.Mas se descubro um talento tardio para a medicina,
tenho que fazer o curso,não é mesmo? Isso chama-se qualificação da mão-de-obra.
Ou estou enganada?!Devo estar,pois o STF disse que o meu registro e diploma,
assim como o de neus colegas de profissão não se faz necessário.
Meu conhecimento não será arrancado,é claro,mas eu percebo que poderia ter feito
um curso de qualquer coisa,estudado por conta e virado jornalista.
Já não tinha esperança de que a política do país mudasse.Já não tinha esperança de que o
jornalismo deixasse de ser elitista.Agora vem um equívoco e sepulta tudo de uma vez.
O que está escrito na lápide:

AQUI JAZ UM DIPLOMA.

Elizabeth Boas disse...

Brilhante! Tanto seu texto como o de Alberto Dines!

Parabéns!