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21 de agosto de 2008

Manual de sobrevivência na vida adulta
Por Juliana Santiago

Qualquer criatura acima da idade legal de 18 anos é considerada adulta. Acho um limite pavoroso. “Adultez” vai muito além de uma questão de números e documentos. Tem gente que, mesmo com o passar dos anos, não cresce nunca. Tem outros que são obrigados a crescer antes do tempo.

E crescer não é tão legal quanto eu achava aos 8 anos. É trabalhoso e as decisões vão passar muito além do sabor do sorvete. Quando você cresce o fato de escolher morango ou chocolate afetará como você é visto, seu futuro profissional e mais uma série de assuntos que antes eram só um blábláblá daquela tia velha e chata.

Alguns fatores acabam auxiliando ou retardando o processo. Eu já passei por alguns deles e hoje, a beira dos trinta, às vezes ainda me vejo com vontade de mandar a minha mãe resolver, com a absoluta certeza que ela faria muito melhor. Como não é todo mundo que tem uma mãe disponível e competente, certas verdades a gente tem que descobrir por si só. Algumas delas são muito feias e não funcionam pra todo mundo.

Verdade feia, boba e cara de mamão N° 01: Vida Amorosa

Você vai descobrir que as pessoas não estão em “stand by” enquanto você vive. Sim, é lamentável, mas o mundo desgraçadamente não para de girar enquanto você está aí. Neste meio tempo, a outras pessoas também estão por aí, vivendo, sem a sua autorização, fazendo e pensando coisas sem a sua supervisão. O problema é delas e se você se deixar afetar (e você vai, acredite) azar. Pra piorar, elas nem sempre fazem o que você quer. Pra ser bem realista, quase nunca. E não há nada que se possa fazer quanto a isso que não seja crime.

A sua vantagem é que você também tem essa liberdade de viver enquanto os outros vivem. Aproveite seu livre arbítrio e vá cuidar da sua vida, exclusivamente da sua. A vida dos outros vai acabar ocasionalmente cruzando com a sua, aí você vai, ‘dá uma cuidadinha’, já que ninguém é de ferro. Mas não se negligencie jamais.

N° 02: Vida Pessoal (Ô termo ridículo!)

Vá morar sozinho e descubra dolorosamente que as roupas não se auto-lavam-e-passam, as contas não se auto-pagam e que a comida não brota na geladeira. E aí você finalmente vai entender o que seu pai queria dizer quando reclamava da falta de dinheiro. Ele realmente falta. E também quando a sua mãe diz que está cansada. Sua casa dá mais trabalho do que seu chefe.

E NÃO DEVA FAVORES! É pior que dever dinheiro, porque a dívida não expira nunca. Não se choque. Ponha-se no lugar dos outros de vez em quando e descubra que não custa nada colaborar. Você também reage da mesma maneira e não perdoa os débitos assim como os seus devedores da mesma forma cruel, mesmo que internamente.

N° 03: Vida profissional

Não fique desempregado. Vá fazer qualquer coisa, nem que seja carregar sacola na feira pra sua vizinha. Ainda que você seja ótimo e bem qualificado, não tem emprego sobrando. Assim sendo, por mais chato que seu chefe seja, por pior que você ganhe, por mais imbecil que seja a sua função, abrace-os todos os dias como se fossem mais importantes que um pedaço do seu corpo.

Sem emprego você não ganha dinheiro. Sem dinheiro você não paga suas contas, não se diverte e não é respeitado. Não importa que você seja legal. As pessoas vão ficar com peninha, mas vão continuar vivendo a vida delas, com o dinheiro delas e no máximo vão te quebrar o galho de vez em quando e te lembrar disso pra sempre.

N° 04: Vida Finaceira

Quebre! Nada como uma boa falência pra se aprender a dar valor à cada centavo, desde aquele do troco que a vendedora arredondou àquela coisa que você não precisa mas está na promoção. Uma vez quebrado, aproveite enquanto dever não é pecado, mas não deixe de pagar. O prazer de um cheque especial quitado é comparável a um orgasmo ou uma boa cantada. Faz você se sentir o máximo.

Escolha a dívida que cabe relativamente no seu bolso e pague uma por uma. As outras que esperem a vez. Duas ao mesmo tempo não adianta, você não vai dar conta e vai acabar é arranjando mais dívidas. O chato é lidar com as cobranças, mas lembre-se que a galera do telemarketing só está tentando trabalhar pra não ficar no mesmo buraco em que você está, se é que já não estão.

N° 05: Duas verdades absolutamente incontestáveis:

A) Falar é fácil e todo mundo fala mais ou menos. Mentir é fácil e todo mundo mente mais ou menos. E ambos são necessários. Às vezes mais, às vezes menos.

B) Não adianta receber conselhos. Você não vai segui-los se não tiver vontade, o que no calor do momento desaparece. Por mais que te digam que já passaram por isso antes e que tudo vai ser assim ou assado, sua mente e seus hormônios vão te fazer blasfemar, ligar pra quem não merece e gastar com o que não deve. No final, você vai ver que as pessoas estavam certas e você decidiu errado, mas não sem antes cometer mais algumas vezes a mesmíssima burrada. É humano e tão certeiro quanto praga de mãe.

O PRINCIPAL: Cuide-se. Ninguém pode fazer isso melhor do que você.

O PRINCIPAL DO PRINCIPAL: Escolha ser feliz e se o universo não colaborar, seja feliz na marra. Só pra contrariar. Apesar de todos os entreveros que o mundo vai te empurrar garganta abaixo (às vezes por pura diversão) respire fundo, engula e sorria. Enquanto o suicídio for pecado mortal, você vai continuar vivendo, o mundo vai continuar girando e por mais longa que a fase boa ou ruim seja, vai passar e você vai acabar achando graça. Vai por mim.

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Quer ler outras genialidades da Ju?
Acesse: http://comentariosdajuly.blogspot.com/

5 comentários:

July Santiago disse...

Sou eu!

Vinícius Lima disse...

Excelente texto. Todos temos muito o que aprender com ele. Juliana é uma mulher sensata.

Odiei crescer, foi a expectativa mais frustrada que tive durante minha vida. Sempre quis crescer e quando isso aconteceu, descobri que queria sempre ser criança. Injustiça do mundo.

Mas adoro ser criança. Não cresci e nem pretendo, longe de mim, prefiro ser uma eterna criança a ser um adulto chato e sem graça. E não é por ser criança que não arcamos com responsabilidades. Tudo no seu devido lugar.

Beijos.

. disse...

Ju!
É genial o seu texto! Aliás, você é genial!
O Pluralidade agradece muito a sua colaboração!
Entra, puxa cadeira. A casa é toda sua!
Beijão

Weiny disse...

Bom... Eu cresci à força mesmo, meio de forceps, meio por teimosia de deixar de ser criança... Digamos de passagem q só fui me tornar adulta mesmo qdo sai de casa... Já passada dos 20 anos...
Atualizei o blog.
Pirar de vez em qdo faz bem pra aguentar a vida adulta, e imagina o qto eu pirei....
Bjão.

Sueli Dutra disse...

July!!!
É o seu texto, é a sua cara e... felizmente ou infelizmente, cara de muuuita gente! rsrsrs.
BeijO.